20121018

O Discurso Cinematográfico (I. Xavier, 2008)

Ismail Xavier. O Discurso Cinematográfico, a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

Classicamente costuma-se dizer que um filme é constituído de sequencias, unidades menores dentro dele, marcadas por sua função dramática ou posição dentro da narrativa.

Cada sequencia é constituída de cenas - partes dotadas de unidades espaço-temporais.

Decupagem é o processo de decomposição do filme (sequencias e cenas) em planos.

Plano é cada tomada da cena, ou seja, extensão de filme compreendida entre dois cortes, plano é um segmento contínuo da imagem.

Plano também é um determinado ponto de vista em relação ao objeto filmado: Plano Geral, Plano Médio/Conjunto, Plano Americano, Primeiro Plano ou close-up, Primeiríssimo Plano.

Câmera Alta e Câmera Baixa.

Diegese (mundo representado)

André Brazin - profundidade do Campo contra Montagem, realização máxima da janela cinematográfica.

Cinema Brasileiro nos anos 50 e 60 (G. Bilharinho, 2009)

Guido Bilharinho. Cinema Brasileiro nos anos 50 e 60. Uberaba: INC, 2009.

Jardim de Guerra: o ser e o fato
Jardim de Guerra, de Neville d'Almeida, estrutura-se eventos ficcionais distintos, conquanto ligados pela mesma personagem  Poderia ser obra autônoma dadas as diferenças. Numa tem-se o protagonista na sua disponibilidade vivencial e descoberta do amor. No outro a personagem às voltas com a franja criminal da cidade. Numa a poeticidade do amor e da juventude, noutra a negação da brutalidade da atuação repressiva dos pretensos defensores da ordem, sob o pretexto de combater o crime. O interrogatório e as torturas a que o protagonista é submetido, o clima de mistério que envolve sua prisão espelham o tenso ambiente político da época. Contudo o objetivo não é entreter o espectador, seu modo de proceder é oposto à fruição. Descompromissado e expelindo a emoção e reivindicando inteligência e sensibilidade. Não provoca entusiasmo, é fria e destituída de explicações a respeito da origem, princípios e modo operacional da organização que luta contra a desordem. Atinge a razão, nunca a emoção, porque esta foi alijada na composição da trama, apresentando isso numa ambientação sci-fi, obra de ressonância apenas intelectual que se o público ignora, se dissolverá no decurso do tempo.

Meteorango Kid, o heroi intergalático: o cotidiano e o insólito
O título só te a ver simbolicamente com o filme, por isso levando muito espectador a ver uma coisa por outra. Ao contrário das conclusões que os desavisados poderiam tirar do título, o filme é justamente o contrário: a vida de um jovem estudante de cabelos compridos e barbicha. O início mostra um hominídeo descendo da árvore  atingindo o sacrifício da cruz e dando de cara com o mundo contemporâneo (itinerário histórico-evolutivo equiparável à 2001, um odisseia no espaço). Vida marcada por forte conteúdo individual e libertário, vazio destituído de significação. Se a representação da vida cotidiana é fastidiosa, a exploração dos ângulos e enquadramentos valorizam a narrativa dos seres humanos com a sua mobilidade e corporalidade, construindo em preto e branco imagens pictóricas das ruas, calçamentos, muros e paredes de Salvador-Bahia.

A Mulher de Todos: as situações e seus espaços
Em fins de 1960, a intelectualidade brasileira vivia um impasse, já que reprimidas e esvaídas as expectativas criadas e alimentadas no decorrer dos anos anteriores a 1964, de desenvolvimentismo, democracia participatória, autonomia econômica e administrativa para os governantes dirigi-lo conforme os interesses nacionais. O denominado cinema marginal surgido nessa época em seguida ao crítico e afirmativo Cinema Novo,  refletiu o estados de espírito de perpexidade impotência e desilusão, sem perda, todavia, da preocupação cultural e artística. Um dos filmes paradigmáticos desse período é A Mulher de Todos, simbólico até no título, mesmo que o cioneasta não tenha intencionado, de um país que era e continua sendo de todos menos do seu esposo legítimo (o povo -  vide revogação do Estatuto do Capital Estrangeiro). A protagonista do filme gosta de biçãis, a classe dominante do país, exploradores estrangeiros. A ninfomaníaca que passa o tempo todo se relacionando com o homem que está mais próximo ou que se aproxima. "sou livre, e os outros? Não existe liberdade individual sem liberdade coletiva".