20121217

As Principais Teorias do Cinema (J. Dudley Andrew, 2002)

 J. Dudley Andrew. As principais teorias do cinema. Trad. Teresa Ottoni. Rio: Zahar, 2002.

·         Cada filme é um sistema de significados que o crítico tenta desvendar, todos os filmes juntos formam um sistema (cinema) com subsistemas (gêneros e outros grupos) suscetíveis de análise pelo teórico.
·         Auterismo é um método crítico e não uma teoria (princípios teóricos que não visam a compreensão sistemática do fenômeno geral).
·         Que espécie de montagem organiza melhor uma cena? (Pudovkin). Como um espectador responde a montagem paralela a um filme cinéma-verité, que tenta ganhar em imediatismo e que perde em atração visual.
·         Para comparar teóricos devemos falar de questões semelhantes categorizando as seguintes perguntas: matéria-prima, método e técnicas, formas e modelos, objetivo ou valor (categorias adaptadas de Aristóteles – em Física II, seção 3, sobre as causas de qualquer fenômeno natural).

1.       Matéria-prima – Perguntas sobre o veículo e sua relação com a realidade, fotografia, ilusão, uso do espaço/tempo ou mesmo processos de cor e som, até sala de exibição. Tudo que existe como um estado de coisas com a qual começa o processo cinemático.
2.       Método e técnicas – Sobre o processo criativo que dá forma ou trata a matéria-prima indo das discussões sobre os desenvolvimentos tecnológicos (tomada em zoom) à psicologia do cineasta ou à economia da produção cinematográfica.
3.       Formas e modelos – Que tipos de filmes foram ou poderiam ser feitos, capacidade do cinema de adaptar outros trabalhos de arte, perguntas sobre gêneros, expectativa da plateia, repercussão. Parte-se da premissa que os filmes são um processo completo no qual a matéria-prima já tomou forma através dos métodos criativos. O que determina essas formas? Como elas são recebidas pela plateia?
4.       Objetivo e valor – aspectos mais amplos da vida, objetivo do cinema. Uma vez que a matéria prima foi moldada por um processo, obtendo determinada forma significativa, que isso significa para a humanidade?
Serguei Eisenstein
·         Atravancou a pesquisa teórica com quantidades maciças de informações arquivadas, selecionadas durante uma vida de leituras em quatro idiomas.
·         Não abraçou uma causa ou teoria e a desenvolveu sistematicamente, tinha uma visão criativa que confere a aparência de uma teoria pop. Por exemplo, Color e Meaning, declarações famosas sobre uma teoria da cor, busca apaixonada que deixa de esclarecer diversos pontos. Outro exemplo, Film Form, parte de declarações como “recebemos a visita do teatro kabuki” e desenvolve ideias sobre as imagens cinematográficas que ele pensou enquanto assistia à peça. Em A Dialectical Approach to Film Form nota-se as ideias jogadas, transições abruptas ao invés de um encadeamento linear. Isso torna a leitura vaga e só se é possível apoiar alguns pontos de referência no rico universo teórico do trabalho de Eisenstein. Apesar de algumas das suas afirmações serem dogmáticas e decisivas, devem ser vistas como restringindo-se umas às outras. Esse é o modo verdadeiramente dialético de se pensar, um modo que ele praticou brilhantemente.

·         O plano era o bloco de construção básico do cinema que ele evoluiu para uma concepção mais completa da atração. Esse conceito é menos mecanicista que o do plano, pois leva em conta a atividade da mente dos espectadores, não apenas o desejo do diretor. Apesar de ser considerado um mecanicista, tinha visão dupla e considerava o cinema um organismo. Sobre matéria-prima negou que cada cor pudesse ter um significado próprio: amarelo ciúme e vermelho paixão.  O significado de cada cor, como todos os outros significados, deriva de uma interelação entre partículas neutras: o verde adquire significado quando aparece em um sistema com outras cores e códigos. O kabuki faz uma estilização exagerada que não necessariamente intensifica a realidade do fato ou evento, nem faz uma alusão a uma interpretação particular, em vez disso deforma e altera todos os acontecimentos e fatos até que estes retenham apenas uma base física. O Encouraçado Potemkim, 1925, quando a dama burguesa diz nos degraus da Odessa: vamos chama-los, obtém uma resposta não através da fala ou ação, mas das sombras dos soldados que se movem silenciosos e sinistros descendo as escadas. Elementos da fala e iluminação em diálogo, uma transferência de efeito. Isso é possível, acha Eisenstein, porque o cineasta tem a capacidade de construir cada uma dessas atrações do modo a escolher. O plano não era um pedaço de realidade da qual o cineasta se apodera, para ele o plano era o lócus de elementos formais como iluminação, linha, movimento, volume (como o pintor ou o escultor).
·         Planos são blocos de construção, ou células, e o cinema só é criado quando essas células recebem animação. O que dá vida a isso é a montagem. Do haikai japonês pássaro+boca=cantar / criança+boca=gritar. Percepções sensoriais para atingir impacto psicológico. Eisenstein enumera tipos de conflito entre atrações disponíveis: conflito de direção gráfica, escalas, volumes, massas profundidades, escuridão, distância focal.
·         Cinco métodos de montagem, mas fica entre os extremos: a matemática e a intelectual. Montagem é o poder criativo do cinema.
·         Nos anos 20 ele percebeu que as atrações nunca poderiam ser o significado do cinema, e então introduziu o conceito dinâmico e unificador da montagem. Empenhou-se em ultrapassar a montagem simples para chegar à forma cinematográfica. A montagem é responsável pelo significado local mas não pelo significado total. Conflito permanente entre a máquina artística (com o espectador participando da construção do significado).
·         A analogia orgânica: Conceito de tema dá organicidade à forma. Potemkim, insurreição abortada que une a população de Odessa e os marinheiros de navios próximos. Poderia ser filmado de incontáveis maneiras, mas apenas na dialética se justificaria. O filme é um processo criativo (não produto) que leva ao tema final. De acordo com Eisenstein os temas básicos da vida se reduzem ao conflito. Assim a montagem, energia da máquina cinematográfica, permite levar à estrutura orgânica da natureza e história. Ele responde aos críticos: “O erro reside em enfatizar possibilidades de justaposição, enquanto menos atenção parecia ser dada à análise do material sobreposto.”
·         Objetivo final do cinema: As teorias de Eisenstein são evidentes no estilo de corte dinâmico em filmes recentes. Em suma, foram integradas e ajudaram a promover a nova consciência cinematográfica radical, sua honestidade e constante autodelimitação faz dela uma teoria sobrevivente.